O Tanque e a Lei


Jo 5.1-18

Mis. Rosane Duarte

Quando abrimos as portas do capítulo cinco do evangelho de João, nos certificamos de que Jesus estava chegando em Jerusalém vindo da Galiléia. Antes que Sua presença fosse percebida, nossa atenção é conduzida para um cenário apoteótico. Todos os olhares estavam direcionados para o tanque de Betesda. A palavra “Betesda” deriva de duas palavras da língua hebraica: “Beth ou Beit”  (Casa) e “Chéssed” (bondade, benignidade, misericórdia) . Significa, portanto, "lugar da misericórdia divina" ou "casa da misericórdia divina". Este lugar se tornara fascinante pelo efeito que causava nas pessoas. Os doentes se alimentavam da esperança de que sua cura viria por meio dele. A esporádica manifestação de um ser angelical provocava um fenômeno que poderíamos chamar de “movimento das águas”, que por sua vez culminava na cura de qualquer doença. Entretanto o canditado à benção precisava preencher certos requisitos. Ele deveria chegar primeiro do que os outros no tanque (Jo 5.4). Isto requeria esforço, esperteza e recursos humanos (Jo 5.7). Há de se convir que numa fila onde havia todo tipo de enfermo, provavelmente os mais fracos e doentes fossem sempre os menos favorecidos na disputa e tal qual o homem enfermo há 38 anos, estivessem em total desamparo (Jo 5.5). A utilidade do tanque de Betesda é inegável, no entanto sua função é limitada. Além da ação espórádica do “movimento das águas”, sua esfera de alcance se estendia a uns poucos e mais favorecidos, enquanto deixava de fora os desvalidos, os desprovidos de recursos próprios. Fascinados com o tanque e colocando nele toda sua esperança, o reduto dos desaventurados não percebera que Jesus havia chegado. Não sabiam quem  Ele era e continuavam numa fila sem fim. Analogicamente, o tanque de Batesda representa a lei. Assim como no tanque, o Espírito de Deus se movia no tempo da lei de forma esporádica e apenas alguns indivíduos específicos recebiam a Sua visitação. O povo de Israel era convocado para cumprir a lei, o que despendia esforço humano. Os judeus se ufanavam de possuir a lei, ao mesmo tempo que se julgavam capazes de cumprí-la (Rm 2.17-29) . De fato, foram eles os primeiros a “descer no tanque” (Rm 3.1-2; 9 4-5;Rm 1.16) e por essa razão, pensavam eles, serem exclusivos quanto às bençãos de Deus. A lei em si mesma não era ruim (Rm 7.12), e teve sua utilidade (Gl 3.19-26), no entanto, na plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu Filho (Gl 4.1-4) e nEle ninguém é deixado de fora (Gl 3.28), pois não depende de “quem quer ou de quem corre” (Rm 9.16), mas do exercício da graça de Deus por meio de seu filho (Rm 3.21-30). Jesus entrou em Jerusalém e os judeus não o perceberam (Jo 1.11) e optaram por continuar com o olhar fixo na lei. Ainda hoje, existem muitos crentes na fila do “tanque de Betesda”, onde o mover é esporádico e alcança alguns circunstancialmente. Não perceberam que Ele está aqui, aquele que é maior que o tanque e cujo favor é acessível e ininterrupto. Há os que estão na “fila” se lamentando pela falta de aptdão e recursos para “entrar no tanque”. Os desvalidos que continuam desvalidos mesmo depois do evento de Cristo. Os que murmuram contra “quem” não oferece ajuda, não conseguem tirar os olhos do tanque e não percebem que JESUS chegou. Betesda representa o incansável esforço do homem de fazer algo por meio da sua humanidade. È só olhar e ver que Ele chegou e a pergunta que faz é: Você quer? Qual a nossa resposta? Podemos ousar a quebrar a ortodoxia, romper o fluxo para onde a maioria está indo, ou podemos continuar murmurando enquanto aguardamos alienadamente na “fila do tanque”. Na sequência, Jesus diz: Levanta e anda! Isto requer fé. Se a “fila não anda” pra nós, pode ser que estejamos fascinados pelo “tanque” ignorando a presença do Senhor. Pode ser que estejamos concentrados demais em nós mesmos e nos outros, e inertes quanto a uma verdadeira vida de fé. Que Deus nos liberte da obssessão por Betesda e abra os olhos do nosso entendimento para o verdadeiro conhecimento do Filho de Deus, onde o mérito humano se desvanece (Fl 3.4-9) e tudo se converte numa infinda graça, num manancial inesgotável (Ef 3.20), e por conseguinte na manifestação da glória de Deus.

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