EU, UM DISCÍPULO?
“Não
é o discípulo mais que o seu mestre; mas todo o que for bem instruído será como
o seu mestre.” Lc 6.40
Leitura Diária: Seg – Mt
4. 18-25; Ter – Lc 9.57-62; Qua – Mt 10.1-33; Qui – Mt 16.1-28; Sex – Lc 18.18-30; Sab – Jo 13.1-20; Dom – Mt 28.16-20
Objetivo: Compreender
a essência do verdadeiro discipulado
Introdução – O que vem à nossa
mente quando pensamos na palavra discípulo? Geralmente nosso pensamento nos
remete aos doze homens escolhidos por Jesus para andar com Ele durante seu
ministério terreno. No entanto, o conceito de discipulado é bem mais abrangente
do que geralmente imaginamos. Para iniciar nosso estudo, é importante
entendermos o significado da palavra. No grego[1] a
palavra usada para discípulo é “μαθητης - mathetes, que significa literalmente
aprendiz (derivado de manthanõ,
“aprender”, proveniente de uma raiz math-,
que indica pensamento acompanhado de esforço) […] por conseguinte denota
‘aquele que segue os ensinamentos de alguém[2]’”.
Já no hebraico, a palavra para discípulo é תלמיד, talmid, que
significa aluno. Denota aquele que senta para aprender. Portanto vemos que o
significado bíblico da palavra discípulo é ser um aprendiz, um aluno que está
sempre disposto a aprender e a seguir os ensinos de seu mestre”[3]. Segundo
Dockery, O termo ‘discípulo’ era usado com frequência no mundo filosófico para
referir-se ao aluno do filósofo[4]. “Segundo a tradição
judaica, um discípulo deveria cobrir-se do pó de seu rabino[5].
Ou seja, deveria andar tão próximo ao seu rabino que o pó levantando pelas
sandálias chegaria a lhes cobrir. Em outras palavras, deveriam estar o mais
próximo possível de seu rabino a todo o momento[6]”.
Para Jesus, o mínimo exigido do
discípulo era que ele se tornasse igual ao seu mestre (Mt 10.25a), o que implica que o discipulado estava
intrínsecamente[7]
ligado à aplicação prática do aprendizado. Deveria transitar entre ouvir e
experimentar. A
Bíblia está repleta de conteúdo que nos remetem à experiência do discipulado e
vale a pena conferir.
1. Conceito Bíblico de
Discipulado – Que tal sobrevoarmos rapidamente pela
Bíblia afim de ampliar nosso conceito de discipulado?
a. No Antigo Testamento
– (2 Rs 2.3,15; 1 Cr 25.8; Is 8.16; Is 50.4; Am 7.14)
- Embora a palavra discípulo popriamente dita não apareça tantas vezes no A.T.,
encontramos alguns relacionamentos que giravam em torno de um autêntico
discipulado. Dentre estes podemos citar: Moisés e Josué (Êx 17.10; 24.13; Nm
18.12-18; Js 1.1); Eli e Samuel (1 Sm
3.1-21) Elias e Eliseu ( 2 Rs 2.1-15). Em todos estes exemplos encontraremos elementos
característicos do discipulado: Ensino e aprendizado, relacionamento
inspirativo e sucessão ministerial.
b. No Novo Testamento –
(Mt 11.2; Mc 2.18; Jo 3.25; 4.1; 9.28; At 21.16)
– No Novo Testamento entretanto, entramos num ambiente em que o conceito de
discipulado é preponderante[8]. “No judaísmo do século I, a instrução de pessoas para a
liderança espiritual era bem definida. Em lugar de confiar na escola, o
judaísmo exigia que os candidatos trabalhassem como aprendizes de mestres
reconhecidos, tornando-se os seus “discípulos” (At 22.3) no sentido técnico da palavra. Um discípulo de rabino vivia
literalmente com o seu professor e o acompanhava em todas as partes. Ele não
aprendia somente ouvindo os ensinamentos do seu mestre, mas também observando
as suas ações. Nós vemos os reflexos deste processo em passagens como Marcos 3.14
[…] e Lucas 6.40 […]. Marcos revela o processo; Lucas o objetivo da educação
dos discípulos. O discípulo esperava não apenas aprender tudo o que seu mestre
sabia, mas também desenvolver um caráter religioso. Fica claro que tornar-se um
discípulo de determinado professor era uma decisão que modelava uma vida
inteira.[9]”
Durante
o tempo em que Jesus viveu na terra, outros mestres tinham discípulos. Os mais
notáveis eram os fariseus ( Mc 2.8 e Lc 5.33)
e João Batista (Mt 9.14).
2. Os Discípulos de
Jesus – Se rabinos judeus, filósofos gregos e religiosos em
geral possuíam seguidores, com o Mestre dos mestres não poderia ser diferente.
Jesus atraiu para si muitas pessoas
desejosas de se tornarem seus discípulos. Na verdade o número destes não foi
limitado a 12 homens. Como veremos a
seguir podemos dividir os discípulos de Jesus em algumas categorias:
a. Multidões - ( Lc
19.37; Jo 6.66-67) – A primeira coisa que se pode dizer é
que sempre havia uma multidão seguindo a Jesus por onde quer que Ele andasse (
Mt 20.29; Mc 2.13; 3.7,20; 4.1; 5.21). Seu ministério causava impacto por onde
ia. As pessoas ficavam impressionadas com suas palavras e o poder que
manifestava, de sorte que não poucos se tornaram seus discípulos (Lc 19.37).
Entretanto muitos no meio da multidão o seguiam de tal forma que o verdadeiro discipulado
ficava comprometido. Sua dedicação ao Mestre se limitava à um nivel mais
superficial e se recusavam à um comprometimento mais profundo (Jo 6.60-66).
b. Os Setenta – (Lc
10.1-20) – Dentre a multidão de discípulos, Jesus destacou
setenta para uma missão peculiar (Lc 10.1). “Jesus
nomeou “outros” isto é, outros além dos doze, que já nomeara e enviara em um circuito
pela Galiléia (Lc 9.1-6). A frase que se encontra na versão inglesa KJ, outros
setenta, não significa que anteriormente Jesus já enviara outro grupo de
setenta, mas tão somente que após ter enviado os doze apóstolos, enviou então
setenta discípulos, ponto esse que não fica claro nas versões modernas. Segundo
o contexto, parece que esse ministério teve lugar parcialmente na Judéia, ao
passo que o incidente similar, registrado em Mt 10.1-42, deixa bem definido que
teve lugar na Galiléia. Nada existe de contrário à idéia que os dois
ministérios similares poderiam estar em foco, pois o mais provável é que houve
outras missões não registradas dos setenta e até mesmo dos doze, que não são de
forma alguma mencionadas pelos escritores dos evangelhos[10].
Apenas o evangelho de Lucas relata a missão dos setenta discípulos, mas
se podemos atribuír-lhes uma característica, então podemos dizer que eles se
enquadram naqueles que ficam entusiasmados diante da manifestação do poder de
Deus (Lc 10.17). Isto não será um problema em si mesmo, desde que estejamos
atentos com a advertência do próprio Jesus a respeito de não valorizar os dons
em detrimento[11]
do maior de todos os dons: a salvação eterna (Lc 10.18-20; Mt 7.21-23).
c. Os Doze – ( Mt 10.1-11.1)
– Os doze figuram como os principais discípulos de Jesus, também designados
como os doze apóstolos. Estes são chamados pelo nome nos evangelhos e aparecem
diretamente ligados aos três anos do ministério terreno de Jesus. Eles se
tornaram os principais responsavéis pela continuidade do ministério do Mestre
na terra após a sua ressurreição (At 1.1-8), com excessão, claro, de Judas Iscariotes (At 1.12,13,16-26). A
trajetória dos doze revela a oportunidade de um relacionamento cotidiano com o
Mestre. Esses doze homens cheios de complexidades, lutavam para abandonar sua
velha forma de pensar e viver, para adequar-se ao “modus-vivendi[12]”
do seu Mestre (Mt 16.21-26; Mc 10.35-45; Lc 9.51-55). Eles representam aqueles
que são verdadeiramente comprometidos com o discipulado, e que permanecem
seguindo a Jesus à despeito de suas limitações ou das circunstâncias (Jo
6.66-69). À estes Jesus conferia um nível de conhecimento que não era permitido
à multidão (Mc 4.10-11).
d. Os Três – (Mt 17.1;
Mc 5.37; 14.33) – Dentre os doze, Pedro, Tiago e João
formavam um grupo mais restrito dentro do ministério de Jesus. Esses três foram
selecionados para estarem com ele em algumas ocasiões especiais como na transfiguração
(Mt 17.1);
na ressurreição da filha de Jairo (Mc 5.35-43); na oração angustiante no
Getsêmane (Mc 14.33). Dentre os mais comprometidos, Jesus conta com discípulos
que demonstram maior grau de maturidade aos quais Ele possa revelar-se em
dimensões mais profundas (2 Co 12.1-9).
e.
O Discípulo Amado – (Jo 13.23-25) – João ocupa um lugar
de destaque no Novo Testamento. È escritor do evangelho que leva seu nome, das
cartas de 1, 2 e 3 João
e do livro de Apocalipse. Além disso, é considerado o “discípulo amado” como
ele se refere a si mesmo no seu evangelho (Jo 13.23). Seguidor de Jesus desde o
início (Jo
4.21-22),
foi o único a estar ao seu lado, junto com Maria, durante a crucificação (Jo
19.25-27). João compõe o grupo dos doze, faz parte do seleto grupo de três, mas
recebe um destaque especial que depõe a favor do seu caráter amoroso. Dentre os
doze, João parecia ser o mais próximo do Mestre, possivelmente um amigo mais
chegado que um irmão (Pv 18.24). A confiança do Mestre em João revelou seu
ponto culminante quando Ele entrega sua mãe aos cuidados do discípulo amado pouco
antes da sua morte (Jo 19.26-27). João retrata o discípulo que anda tão próximo
do Mestre, a ponto de tornar-se digno da sua maior confiança.
g. A Multiplicação - (Mt 28. 18-20)
– Jesus antes de subir para o Pai encarregou seus discípulos a se multiplicarem
de tal forma, que seu ensino saisse de Jerusalém e se espalhasse por toda a
terra (At
1.8).
È exatamente isso que vemos na sequência da história bíblica (At 1.15; 2.41;
4.4; 6.1-2,7; 14.21). A ênfase do discipulado é que todo discípulo reproduza em
si mesmo a vida do Mestre e a multiplique em novos discípulos (Mt 10.25a),
ou seja, fazer outros discípulos que também façam outros discípulos (2 Tm 2.2).
Aqui que começa a nossa nova história de
vida como discípulos de Cristo. Sim, eu posso ser um(a) discípulo(a).
Conclusão:
O convite de Jesus ao discipulado é irrestrito[13]:
“Se alguém quiser…siga-me” (Mt 16.24). Sua proposta é que nos assentemos aos
seus pés para ouvir cada palavra que sai da sua boca e ao nos levantarmos
estejamos prontos para seguir-lhe moldando nosso viver diário ao seu estilo de
vida. Este é o começo de uma longa jornada que terá seu ponto culminante na
eternidade (Fl 3.12-14). Seguir a Jesus é o mais sublime e mais extraordinário
projeto de vida! Seja bem vindo ao discipulado!
[1] Grego – Língua na qual foi escrito o
Novo Testamento
[2]
VINE, W.E. et al. Dicionário VINE. 4ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, P.569
[4]
DOCKERY, David S. Manual Bíblico Vida Nova. São Paulo: VIDA NOVA, 2010, p. 634
[5] Rabino - Mestre, professor
[6] http://guiame.com.br – em 28/09/16 ás 15.14
[7] Intrínsecamente - Essencial;
inseparável; próprio e inerente.
[8] Preponderante - dominante, que tem mais
peso, importância, influência ou força.
[9]
RICHARDS, Lawrence O., Comentário Histórico Cultural do Novo Testamento, 3ª ed.
Rio de Janeiro: CPAD, 2008,p.20
[10]
CHAMPLIN, R.N., O Novo Testamento Interpretado Vol2, São Paulo: Hagnos, 2002,
p. 102
[11] Detrimento - dano, prejuízo, perda,
desvantagem
[12] “Modus
–Vivendi” – Modo de viver
[13] Irrestrito - sem restrição; desprovido de limitações; amplo
e ilimitado
Extraído da Revista Vivendo Em Cristo - CPIMW
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